terça-feira, 8 de março de 2011

Minha História, Minha vida: realidades e ficções!


Justamente hoje no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, estou começando a contar a minha história...

Tudo começou no dia 14 de março de 1968, às 10:30 da manhã, quando eu nasci (mas na verdade já começou desde que eu estava no ventre de minha mãe...).
Minha mãe morava no interior de Santa Maria, numa localidade chamada Santo Inácio, que ficava no 6º distrito de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Ela começou a sentir os primeiros sinais de parto. Meu pai chamou um vizinho, o único que tinha carro naquele lugar, para levá-la a uma parteira, pois nessa época ninguém ia para o hospital, as mães ganhavam os filhos em casa mesmo. Ela já estava no 6º parto e tinha nascido morto o último filho, por isso tinha que tomar as devidas providências e não podia ficar em casa dessa vez.
Chegando lá, a parteira viu o caso sério, pois minha mãe já não tinha mais forças, então tomou uma injeção de parto para recuperar as forças. Nesse momento eu nasci toda “pretinha” porque havia passado da hora, mas vivi por milagre de Deus que salvou minha vida e a vida da minha mãe naquela mesa de parto.
Depois de passado o tempo necessário de ficar lá, mamãe foi para casa comigo. Papai foi nos buscar de aranha – meio de transporte mais confortável que ele possuía na época. Isso era uma espécie de carroça com duas rodas grandes e era puxada a cavalo.
Ao chegar em casa, minha irmã mais velha, Janir, foi nos encontrar e mamãe lhes disse:
- Filha, pega esta trouxinha pra mamãe. – Ela pegou-me e levou-me para dentro de casa e me pôs na cama. Depois perguntou para mamãe:
- Mãe, o bebê já tem nome?
- Não, filha, por quê?
- Porque eu tenho um nome como sugestão.
- Qual é o nome?
- Marilene. – Então mamãe, talvez para contentá-la, aceitou e colocou. Essa minha irmã juntava-se com meu pai Onezio para rir da barriga da minha mãe durante a gestação e isso gerou um clima desconfortável para ela. Creio eu que riam por ignorância, pois uma pessoa esclarecida não faria uma coisa dessas, rir de algo tão natural e normal na vida de uma mulher. Eu, porém, quando fui crescendo, detestava o meu nome e culpava mamãe por ter aceitado colocar o nome que Janir tinha escolhido. Eu dizia:
- Esse nome é tão feio que ninguém tem igual! - Eu queria ter um nome mais comum que outras pessoas tivessem, pois no lugar onde eu morava só existiam duas pessoas com esse nome. Mas o tempo foi passando e eu fui me habituando, mas na verdade até hoje eu não gosto, tanto que adotei o apelido de Mary, conforme as pessoas me conhecem, e só acrescento o “lene” na escrita quando sou obrigada mesmo.
Após, ao chegar a noite, começou o sofrimento das duas, pois eu chorava incessantemente durante mais ou menos uns três meses. Minha irmã me embalava, cantarolava... mas eu continuava em prantos e nada de dormir. Foi então numa certa noite que maninha perdeu a paciência, que já não era muita, e disse para mamãe:
- Toma essa “chapeluda”, uma forma de me ofender que ela usou, que eu não vou cuidar mais! – Mamãe ficou triste com essa atitude, colocou-me no braço e disse-me:
- Fique aqui com a mamãe, eu cuido de você. – Pois mãe nunca se cansa de um filho, não é mesmo?
Como o passar do tempo, eu fui crescendo saudavelmente, pois nunca fui internada em um hospital, graças a Deus. Mas eu era uma criança muito arteira...dava trabalho demais. Quando raramente eu ganhava brinquedos novos, detonava-os de alguma forma, pois não era nem um pouco cuidadosa, até os queimava às vezes dentro do fogão à lenha e depois saía toda disfarçada e com as mãos para trás, sentindo-me incriminada. Cada vez que me viam assim, podiam abrir a portinha do fogão que algo estava sendo queimado.
Nos passeios que ia com mamãe na casa das vizinhas ou comadres, no interior tinha muito disso, até as folhagens eu as arrancava e destruía tudo. Nas festas de igreja que ela me levava, se brincasse, até no altar de imagens de santos eu subia. Nos dias de finados, que íamos ao cemitério, até nos túmulos eu subia. Realmente eu era terrível! As pessoas diziam para minha mãe que eu era meio louca. Então mamãe me levou ao médico para fazer uns exames da cabeça, mas deram todos bons. Então minha mãe disse que eu merecia era uma boa surra de vara!
Lembro-me de quando minha amiguinhas falavam dos passeios que faziam na casa dos avós e das comidas gostosas que comiam. Ah! Sempre tive vontade de ter uma vovó e um vovô, pois sempre me identifiquei com as pessoas mais velhas..., mas infelizmente minha última vó faleceu quando eu tinha três anos de idade...posso dizer que não a conheci.
Muitas vezes, durante a minha infância, eu ia com minha amiga Fátima à casa de sua avó Zulmira e seu avô Jorge, ambos eram compadres de meus pais. Zulmira era uma mulher baixinha, magrinha...um projeto de gente! Mas de um coração enorme! Ela adorava tratar bem de seus netos e amigos deles. Quando chegávamos lá, ela já empurrava o velho bule para o centro da chapa do fogão à lenha para esquentar o café para nós. Meu pai até costumava dizer que o bule da comadre Zulmira não tinha descanso, que ele tinha que estar sempre quente, visto que na casa dela chegavam muitas visitas, era uma casa cheia! Era também uma família enorme, pois ela tinha cerca de 12 filhos, se não me falha a memória. Ela servia o café com bolacha e pão caseiros, hum...que delícia! Nesses momentos eu ficava imaginando como seria bom ter uma vovozinha, mas sabia que isso era impossível.
Essa minha amiga Fátima era filha da minha primeira professora Maria Serleu Camargo Pedrozo, a qual me alfabetizou. Ela morava cerca de 100 metros da escolinha Rafael Pinto Bandeira onde eu estudei até a 4ª série. Essa escolinha era também uma espécie de igreja, pois tinha a imagem de uma santa (Nossa Senhora Medianeira). Os católicos, e eu também era católica nessa época, rezavam terços e os padres rezavam missa nessa escola, até o Bispo ia de tempos em tempos e era homenageado como se fosse Deus, só não ia o Papa mesmo rsrsrsrsrsrsr. Também se realizavam nessa escolinha festas, matinês e festas juninas com fogueiras de São João. Era muito bom e divertido. Tinha ainda as festas natalinas e aparição do Papai Noel que distribuía doces para as crianças.
Lembro-me também da outra professora da 3ª e 4ª série. O nome dela era MariaMaria Anita Aita (essa repetição de Maria foi devido o pai dela ser gago e na hora de registrar falou assim e assim ficou). Essa era uma professora bem severa. Ela ensinava muito bem, mas era bem rígida! Aluno na aula dela não “pintava o sete não”! Se fizéssemos algo de errado, ficávamos de castigo: sem recreio ou até de joelho na porta da escola para quem passasse na estrada nos ver.
Certa vez, na hora do recreio, fui para o campo em frente a escola comer goiaba madurinha, hum que delicia! Com minha amiga Fátima e sua prima Regiane. Quando ouvimos o sinal que acabou o recreio (uma espécie de sineta que batia), elas me falaram assim:
- Vamos, é hora de entrar. – E eu, que sempre fui muito obediente, nesse dia resolvi desobedecer. E falei para elas:
- Vamos ficar mais um pouquinho, as goiabas estão tão gostosas! - E ficamos. Ao chegarmos de volta à sala de aula, os alunos todos tinham entrado. Na hora que a professora pediu explicação por termos nos atrasado, minhas amigas se inocentaram e jogaram a culpa para cima de mim. Assim, elas ficaram “numa boa” e eu, no final da aula, fiquei de castigo de joelhos na porta juntamente com os meninos Edsom, João Carlos Flores, João Carlos Correia e Juarez que também haviam aprontado algo de errado que eu não lembro o quê. Ali ficamos durante uns 15 minutos, mas o pior de tudo foi que, nesse espaço de tempo, meu pai ia passando na estrada. Então eu me escondi atrás dos meninos para que ele não me visse, pois se isso acontecesse eu iria apanhar quando chegasse em casa. Mas por sorte ele passou sem olhar, mas isso tudo para mim foi uma vergonha imensa e serviu para nunca mais fazer por merecer castigo.
Eu morava longe e levava mais ou menos uma hora para chegar até a escolinha. Realmente não era fácil nas duas estações do ano: verão e inverno. No verão, era o sol forte que me judiava e a poeira da estrada que sujava os pés. No inverno frio e chuvoso, (o frio do Rio Grande do Sul era rigoroso), eu usava umas botas de borracha Sete Léguas– ainda lembro até a cor: vermelha. Não tínhamos guarda-chuva naquele tempo. Eu usava um chapéu de palha na cabeça e para não penetrar a água, era de praxe costurar um plástico em volta, assim os cabelos se mantinham secos. Para não molhar a roupa, eu usava um plástico envolto nas costas e preso à frente – era da cor roxa, que minha mãe havia comprado novo pra mim. Mas outros colegas meus que talvez não podiam comprar isso, enrolavam-se num saco plástico de adubo Maná, lembro-me até a marca. Com o passar do tempo (acho que eu nem estudava mais nessa escola), minha mãe comprou para mim uma sombrinha de fundo azul e cheia de moranguinhos, aquilo era um espetáculo para mim! Então, lembro-me que eu pedia a Deus que mandasse chuva para eu estrear minha sombrinha!
Nessa época, por volta dos anos 70, as brincadeiras de escola eram muito gostosas e sadias. Brincávamos de Ciranda Cirandinha e dizíamos versos uns aos outros. Lembro-me do meu colega Zerauj que era apaixonado por mim desde criança. Ele disse um verso para mim que nunca esqueci:
Atirei o limão n’água
De pesado foi ao fundo
Pra não me casar contigo
Só que Deus me tire do mundo!”
E eu respondi assim para ele:
Não pense que tu me iludes
Com os teus belos carinhos
Cara de figo murcho
Roído dos passarinhos!
Pois eu nunca gostei desse menino (até tentei namorá-lo, depois dos meus 15 anos, mas realmente não deu certo. Acho que sempre tive uma sina de gostar da pessoa errada mesmo rsrsrsrsrsrsrs).
Também fazíamos a brincadeira de passar um anel de mão em mão e alguém adivinhar em que mão estava. E outras tantas brincadeiras de infância que estão gravadas até hoje em minha memória. E lamentavelmente hoje em dia não existem mais porque a tecnologia se expandiu e modernizou tudo.